Quem visita o Restaurante 1835 no Espaço Kempinski Laje de Pedra, se depara, logo que dá seus primeiros passos, com algo grandioso: uma lareira imponente, suspensa, que embeleza o ambiente e ainda ajuda a esquecer quem frequenta o local nos dias mais frios.
O que poucos sabem é que esta lareira é a mesma que fazia parte do salão de estar do antigo hotel Laje de Pedra, que completou 45 anos no último dia 26 de novembro. Recuperada apenas com pequenos detalhes, a lareira segue firme e funcional, carregada de história e pronta para presenciar novos momentos especiais.
O responsável pela sua criação é o artista plástico Vitório Gheno, um ícone gaúcho. Nasceu em 26 de outubro de 1923, em Muçum, interior do Rio Grande do Sul, um ano após a Semana de Arte Moderna, um momento perfeito para um artista vir ao mundo.
Gheno chegou em Porto Alegre aos quatro anos, junto com os seus pais, que vieram trabalhar com o tio, Luís Michelon, primeiro vitivinicultor a produzir champagne no Brasil. Logo cedo, descobriu o universo da ilustração, quando começou a criar pequenos desenhos em aparas de papel que conseguia na Livraria do Globo.
O talento de Gheno foi, neste meio tempo, descoberto pelo gerente da livraria, que o colocou para fazer parte da equipe da Seção de Desenho da Globo. Ele tinha 14 anos na época.
Dos escaninhos da Livraria do Globo até as agitadas reuniões com Carlos Scliar e Vasco Prado, para fundarem a Associação Rio-grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa (1938), Vitório acompanhou o crescimento e evolução do que hoje conhecemos como modernidade.
O Laje de Pedra entrou na vida do artista na década de 1970, quando amigo, José Luiz Corrêa, decidiu erguer aquele que seria um dos hotéis mais emblemáticos do país. Convidado por Côrrea, Gheno foi decorador e designer, assinando todo o projeto de decoração e concepção do mobiliário do Laje.
"Foram três anos de muita satisfação pessoal e profissional [ara mim, pois me dediquei sobremaneira àquele hotel monumental, cuja decoração de luxo e design mobiliário especial consistiram no melhor projeto de criação que já assinei para hotéis de redes hoteleiras brasileiras nos anos 1970 e 1980", afirma.
No hotel, ele foi responsável por criar uma galeria de arte, com obras de diversos artistas gaúchos e brasileiros, incluindo próprias, que até hoje fazem parte do acervo do Instituto Cultural Laje de Pedra.
A lareira, de acordo com o próprio artista, "é uma perfeita obra de arte", que quase ficou de fora da decoração do hotel. Executada em cobre e latão, unidos por grandes tachões e suspensa pelo espanhol Miguel Almavisca, só foi concebida meses antes da inauguração do prédio.
"A história da lareira é muito peculiar. Quase no fim da decoração do hotel, no ano da sua decoração, eu me dei conta que faltava algo para esquentar os hóspedes e visitantes no frio do inverno. Quando eu entrava no grande hall da recepção e olhava para a minha esquerda, avistava o vale. Então, concluí que ali poderia haver uma lareira suspensa no teto que permitisse avistar o vale através do fogo", relata.
A belíssima obra de arte de Gheno seguirá imponente no novo Kempinski Laje de Pedra. Uma homenagem justa e honrosa a este grande artista à frente do nosso tempo.